PREFÁCIO

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Esse livro me pede uma franqueza que ninguém deve ter. Então, caros olhos que me acompanham, se você se sentir confuso e, talvez, encontrar semelhanças pessoais com os personagens, não entre em pânico, não é uma coincidência fatal. É só que a loucura é a realidade em outro formato e até mesmo as geometrias pessoais se encaixam.


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11.10.08

Capítulo 1





- Mágicos não usam truques, usam metáforas! – bradou como se tivesse descoberto o céu.
- Como você pode ter tanta certeza disso? – retorquiu o reverendo.
- Girassóis, professor, girassóis...
- Explique-se, senhorita Belinda.
- O senhor nunca ouviu os girassóis? Todos os dias, eles se curvam diante do Sol e pedem licença para que as outras estrelas não percam o seu brilho... – agora, já de pé, contando estrelas de isopor penduradas no teto.
- Muito bem, senhorita Belinda, chega de poesia. As noites se originam do movimento da Terra em torno do seu próprio eixo. O Sol não interfere em nada. – fechou seu caderno de anotações bruscamente e mirava-a como um atirador franco-prussiano em dias da antiga guerra.
- O senhor é mesmo surdo! A Terra gira porque o Sol canta melodias e, de tão contente, ela não se cansa de bailar... – suspirou profundamente, buscando paciência.
- Barbaridade... Barbaridade... Você não tem mais jeito, menina! Encerramos por hoje... – expelia enquanto caminhava até a porta... – é melhor descansar, avisarei seu pai.
Belinda o fitou docemente com um sorriso furtivo, como se já esperasse, já aguardasse... o momento em que ele partiria sem entender o seu tesouro. Ela nunca aprenderia algo com a escola se a escola insistisse em nunca estudá-la. A verdade é inútil se for engolida.
A porta se fechou e o sinal bateu, enfim poderia passar o resto do dia no pátio, contando histórias para as margaridas...

...

Argh! Como explicar para você, pobre leitor desalmado?! Que o que ela tinha era ceticismo demais?! Narrar... Narrar... Narrar! Só assim a liga metálica se desfaz...

...
, cochichando para si mesma as vírgulas dos meus pontos finais, sorria a Belinda cuja beleza não era minha. Entre garçons e clientes, lá estava ela, a minha única platéia. O que ela avistava? Um músico sem aplausos?

- “Eu, pensando em você
Pensando em nunca mais
Pensar em te esquecer
Pois quando penso em você
É quando não me sinto só
Com minhas letras e canções
Com o perfume das manhãs
Com a chuva dos verões
Com o desenho das maçãs
E com você me sinto bem.”

- “ Eu estou pensando em você
Pensando em nunca mais
te esquecer...” [1]

- Eu volto amanhã, obrigado. – disse, virando para guardar meu violão.
- Será o fim ser assim, Serafim?
- Perdão, quem...? –ousei, levantando os olhos. Ela sorria com as mãos roubando uma flor do meu paletó.
– ah.. Assim como?
- Flor... pétala e espinho. Por que todo mundo só lembra da pétala?– já sentada do meu lado.
- Acho que porque é mais doce... – falei como que dizendo algo óbvio.
- é... mas o espinho vem antes. – contesta da forma mais tímida possível.
- Oras, Belinda, você prefere a dor do que a doçura?
- Claro que não! Eu prefiro os dois. Eu... Eu gosto é da flor...
- Mas nem toda flor tem espinho!
- As desse tipo já sabem o fim.
- E qual é o fim?
- As pessoas roubaram seus espinhos.
- Enlouqueceu? Por que as pessoas iriam querer dor?
- Jamais... Roubar o espinho é ter só beleza.
- Acha mesmo?
- Não.
- Como não?
- E eu tenho que dizer tudo? Pois me diga você, o moço que carrega o fim pela vida.
- Pergunta difícil... – não contive o sorriso – Todas as noites, eu toco para pessoas que não possuem ouvidos, mas não me importa, enquanto eu ouvir minha música, o precipício é do outro que não alcança minha arte.
- Viu só como sabia! – afanou meus cabelos – As pessoas ignoram o óbvio.
- Ignoram, mas não enxergo aqui a tal ignorância...
- Espinhos não são tropeços de Deus. A doçura vem de cortes profundos... Ah! – levantou-se num salto – tenho que ir ver Judith! Quase me esqueço.
- Judith?
- Minha borboleta. – beijou-me a fronte – Amanhã me dará outro final?
- Talvez... – devorando seus olhos - Se me disser então o que é belo.

Ela partiu sem dizer mais nada. Ela não tinha nada mais a dizer.O belo não é para ser dito.
[1] Paulinho Moska – Pensando em você

4 comentários:

Paula § Danna disse...

Oii.. acompanho os seus passos no blog a muito tempo, e fikei curiosa pr seus livros.. hoje estou matando minha sede de boa leitura..

suas palavras me encantam..

grande beiju!

Jess disse...

hummmmm!
Minha primeira tortinha de limão doce!
Respondida!

(:

Paula § Danna disse...

Ixe... devorei o seu livro, passei o endereço pra minhas amigas, agora quero imprimir uma cópia pra guardar na minha cabeceira.. posso??

bjus de torta de limão doce!

Jess disse...

ôoun! Mas é claro que pode (: