PREFÁCIO

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Esse livro me pede uma franqueza que ninguém deve ter. Então, caros olhos que me acompanham, se você se sentir confuso e, talvez, encontrar semelhanças pessoais com os personagens, não entre em pânico, não é uma coincidência fatal. É só que a loucura é a realidade em outro formato e até mesmo as geometrias pessoais se encaixam.


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11.10.08

Capítulo 4

- Larga disso, menina! Por que você acha que sua mãe te deixou? Se ela te amava assim, não teria se matado!
- Por que você mente tanto?
- Vai continuar mesmo com isso de ajudar quem não precisa?
- Eles não têm o que comer!
- E você acha que eles iriam te ajudar se fosse o contrário?
- Isso não importa.
- Claro que importa. Eles nunca vão te retribuir nada.
- A gente nunca dá querendo receber.
- Isso é coisa de fachada, minha filha, no mundo, tudo o que se faz é pelo o que favorece a si mesmo. Não desperdice seu tempo com coisas desfavoráveis.
- Não é justo, pai.
- A vida é assim.
- Não, o senhor que quer que a minha vida seja assim.
- É desse jeito que as coisas funcionam.
- Não sei porque o senhor quis me ter então.
- Como assim?
- Pra quê então me dar essa chance de viver num mundo todo estragado? Me deu a vida para em seguida extirpá-la do peito.
- Ah, então vai se matar como a sua mãe?
- Não. Eu vou tentar mudar as coisas se o senhor não me impedir como fez com ela.
- Acredite, eu serei o menor dos seus problemas.
...
E, quanto a isso, ele estava bem certo. Se já era frívolo aceitar desastres de um jeito tão natural, lá fora, o calor só existia se assim fosse.
...
A chuva escorria sobre o meu rosto, havia horas que eu estava ali, sentado, observando-a de pouco a pouco me tocar. Agora, o ambiente parecia todo molhado e eu já era o ambiente, encharcado, pautando que, ao fim do meu dossiê temporal, nem toda a chuva do mundo faria com que a chuva de dentro parasse de me lavar. Constantemente. Eu estava só. Belinda sonhava. E eu estava só. Belinda não sentia a chuva. Ela estava só.
Horas. Éramos nós. Dois nós apertados. Cegos, sem saída, sem desfeita. Nós de silêncio.
A verdade nos rasgou o profundo. Mas quanto a mim os pontos continuam a se romper...
- Eu não ia ser feliz sem você... – expirei todo o ar dos pulmões.
Mas ela continuou a dormir. Melhor assim, a chuva acabou.

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