- Larga disso, menina! Por que você acha que sua mãe te deixou? Se ela te amava assim, não teria se matado!
- Por que você mente tanto?
- Vai continuar mesmo com isso de ajudar quem não precisa?
- Eles não têm o que comer!
- E você acha que eles iriam te ajudar se fosse o contrário?
- Isso não importa.
- Claro que importa. Eles nunca vão te retribuir nada.
- A gente nunca dá querendo receber.
- Isso é coisa de fachada, minha filha, no mundo, tudo o que se faz é pelo o que favorece a si mesmo. Não desperdice seu tempo com coisas desfavoráveis.
- Não é justo, pai.
- A vida é assim.
- Não, o senhor que quer que a minha vida seja assim.
- É desse jeito que as coisas funcionam.
- Não sei porque o senhor quis me ter então.
- Como assim?
- Pra quê então me dar essa chance de viver num mundo todo estragado? Me deu a vida para em seguida extirpá-la do peito.
- Ah, então vai se matar como a sua mãe?
- Não. Eu vou tentar mudar as coisas se o senhor não me impedir como fez com ela.
- Acredite, eu serei o menor dos seus problemas.
...
E, quanto a isso, ele estava bem certo. Se já era frívolo aceitar desastres de um jeito tão natural, lá fora, o calor só existia se assim fosse.
...
A chuva escorria sobre o meu rosto, havia horas que eu estava ali, sentado, observando-a de pouco a pouco me tocar. Agora, o ambiente parecia todo molhado e eu já era o ambiente, encharcado, pautando que, ao fim do meu dossiê temporal, nem toda a chuva do mundo faria com que a chuva de dentro parasse de me lavar. Constantemente. Eu estava só. Belinda sonhava. E eu estava só. Belinda não sentia a chuva. Ela estava só.
Horas. Éramos nós. Dois nós apertados. Cegos, sem saída, sem desfeita. Nós de silêncio.
A verdade nos rasgou o profundo. Mas quanto a mim os pontos continuam a se romper...
- Eu não ia ser feliz sem você... – expirei todo o ar dos pulmões.
Mas ela continuou a dormir. Melhor assim, a chuva acabou.
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