- Pai?
- Minha princesa! – respondeu, colocando-a no colo.
- Por que o senhor some? – fitando seus olhos para não fugir.
- Eu preciso, minha filha, mas você fica com tudo aqui...
- Fica vazio... – disse com tanta tristeza que seu vestido-mar desbotou.
- Mas vazio cheio, né? – tentando reverter a situação.
- Não, cheio de vazio. O único vazio cheio é o silêncio, pai. – levantou-se do colo dele e rumou para a porta – Tchau...
- Tchau, minha filha...
- Minha princesa! – respondeu, colocando-a no colo.
- Por que o senhor some? – fitando seus olhos para não fugir.
- Eu preciso, minha filha, mas você fica com tudo aqui...
- Fica vazio... – disse com tanta tristeza que seu vestido-mar desbotou.
- Mas vazio cheio, né? – tentando reverter a situação.
- Não, cheio de vazio. O único vazio cheio é o silêncio, pai. – levantou-se do colo dele e rumou para a porta – Tchau...
- Tchau, minha filha...
...
O que eu queria mesmo era conseguir explicar como que antes ela era livre, mas de asas podadas... A bela que sonhava domar o mundo para que fera não fosse mais. Mas quem disse que ele quis o fim das suas desgraças? Ficou sozinha até achar que solidão não é mais ser só.
...
- Bom dia, Serafim de asas azuis!
- Como acordou, pequena?
- Fechando os olhos... – apertou leve minha mão – me diz... – sentando-se ao meu lado.
- Sim?
- Me descreve?
- Ah... Vejamos... Linda?
- Não! Sério... Me descreve?
- Ta... Ta... Estatura mediana, cabelos castanhos escuros, lisos, na altura dos ombros... Mãos pequenas... Olhos cor de oliva... Coração maior que o meu... Tem passos calmos e sorri pra mim.
- Bem melhor... Obrigada!
- Por que o pedido?
- Cansei de espelhos, prefiro ouvir de você.
- Sendo assim, você ainda tem uma pinta enigmática próxima ao nariz e acima da boca do lado direito.
- Haha! Você não tem jeito...
- Mesmo... O que você guarda nessa pinta?
- Não sei, eu nem a vejo... O que você guarda na minha pinta?
- Essa é fácil! Oras, tudo o que você quiser que eu guarde.
- Tudo?
- Tudo.
- Eu quero... Que você se guarde nela.
- Ah... Então... Me descreve?
- Cabelos negros, lisos e bagunçados pelo vento escorregam sobre seus olhos cor de oceano, um azul tão escuro que só enxerga profundeza... E... – ajeitando-se em mim – Seus braços são fortes... O suficiente para me guardar.
- Falando assim, eu nem pareço esse moribundo que te acompanha.
- É porque no meu mundo ser moribundo é ser príncipe da própria vida.
- E onde ficam os loucos? Com pincéis nas mãos?
- Aaaah... Loucura não é vanguarda artística. No meu mundo, os loucos foram ouvidos.
- Mas vivem colocando a loucura como estilo de vida, moda vazia... Não entendo. Como ouvir algo
tão sem sentido para o seu mundo descapitalizado?
- Não, Serafim, os verdadeiros loucos foram presos. O nosso mundo antigo não aceita quem vai contra sua moeda.
- Sempre achei que hospícios fossem lugares para doentes mentais.
- É o grande mal, tentam passar a imagem de que está tudo perdido, sem solução, mas é nada, é
só câncer do desespero.
- Câncer do desespero?!
- O jeito que se fica depois que o mundo te deixa.
- Continuo não entendendo nada, Bel.
- Quando o mundo não te ouve mais, você guarda um silêncio que só cresce, um silêncio que vive
até te engolir. É tanto silêncio que toda companhia é sozinha e o mundo inteiro fica vazio de tão cheio, porque tudo fica em vão. E não te resta mais nada, a não ser um desespero que cresce a proporção do silêncio, um câncer que engole tudo, menos o silêncio. Sobrando em você todo o desespero do mundo e todas as suas palavras silenciadas por ouvidos que não conseguem escutar.
- E ele te engole?
- Engole sim. É aí que a gente enlouquece.
- Que coisa triste...
- Meu fim, – cruzando os dedos – posso te perguntar...?
- Qualquer coisa, Bel.
- Você acha que a gente é louco?
- Você acha que tem jeito de a gente ser triste?
- É que... – pensativa.
- Acho que Judith está sentindo sua falta! – interrompi.
- Verdade...
- Bitoca. – disse, beijando seus lábios.
- Até a noitinha, Grande.
O que eu queria mesmo era conseguir explicar como que antes ela era livre, mas de asas podadas... A bela que sonhava domar o mundo para que fera não fosse mais. Mas quem disse que ele quis o fim das suas desgraças? Ficou sozinha até achar que solidão não é mais ser só.
...
- Bom dia, Serafim de asas azuis!
- Como acordou, pequena?
- Fechando os olhos... – apertou leve minha mão – me diz... – sentando-se ao meu lado.
- Sim?
- Me descreve?
- Ah... Vejamos... Linda?
- Não! Sério... Me descreve?
- Ta... Ta... Estatura mediana, cabelos castanhos escuros, lisos, na altura dos ombros... Mãos pequenas... Olhos cor de oliva... Coração maior que o meu... Tem passos calmos e sorri pra mim.
- Bem melhor... Obrigada!
- Por que o pedido?
- Cansei de espelhos, prefiro ouvir de você.
- Sendo assim, você ainda tem uma pinta enigmática próxima ao nariz e acima da boca do lado direito.
- Haha! Você não tem jeito...
- Mesmo... O que você guarda nessa pinta?
- Não sei, eu nem a vejo... O que você guarda na minha pinta?
- Essa é fácil! Oras, tudo o que você quiser que eu guarde.
- Tudo?
- Tudo.
- Eu quero... Que você se guarde nela.
- Ah... Então... Me descreve?
- Cabelos negros, lisos e bagunçados pelo vento escorregam sobre seus olhos cor de oceano, um azul tão escuro que só enxerga profundeza... E... – ajeitando-se em mim – Seus braços são fortes... O suficiente para me guardar.
- Falando assim, eu nem pareço esse moribundo que te acompanha.
- É porque no meu mundo ser moribundo é ser príncipe da própria vida.
- E onde ficam os loucos? Com pincéis nas mãos?
- Aaaah... Loucura não é vanguarda artística. No meu mundo, os loucos foram ouvidos.
- Mas vivem colocando a loucura como estilo de vida, moda vazia... Não entendo. Como ouvir algo
tão sem sentido para o seu mundo descapitalizado?
- Não, Serafim, os verdadeiros loucos foram presos. O nosso mundo antigo não aceita quem vai contra sua moeda.
- Sempre achei que hospícios fossem lugares para doentes mentais.
- É o grande mal, tentam passar a imagem de que está tudo perdido, sem solução, mas é nada, é
só câncer do desespero.
- Câncer do desespero?!
- O jeito que se fica depois que o mundo te deixa.
- Continuo não entendendo nada, Bel.
- Quando o mundo não te ouve mais, você guarda um silêncio que só cresce, um silêncio que vive
até te engolir. É tanto silêncio que toda companhia é sozinha e o mundo inteiro fica vazio de tão cheio, porque tudo fica em vão. E não te resta mais nada, a não ser um desespero que cresce a proporção do silêncio, um câncer que engole tudo, menos o silêncio. Sobrando em você todo o desespero do mundo e todas as suas palavras silenciadas por ouvidos que não conseguem escutar.
- E ele te engole?
- Engole sim. É aí que a gente enlouquece.
- Que coisa triste...
- Meu fim, – cruzando os dedos – posso te perguntar...?
- Qualquer coisa, Bel.
- Você acha que a gente é louco?
- Você acha que tem jeito de a gente ser triste?
- É que... – pensativa.
- Acho que Judith está sentindo sua falta! – interrompi.
- Verdade...
- Bitoca. – disse, beijando seus lábios.
- Até a noitinha, Grande.
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